O Diário Secreto de Laura Palmer
Livro: O Diário Secreto de Laura Palmer
Autoria: LYNCH, JENNIFER
Sinopse: Eternizada no seriado Twin Peaks, que revolucionou a teledramartugia mundial, a história da adolescente Laura Palmer e de sua cidade natal arrebatou milhões de espectadores nos anos 1990 através do olhar do diretor David Lynch. A pergunta Quem matou Laura Palmer? se tornou uma verdadeira obsessão para os fãs, que no início da década deram início a um verdadeiro culto à bela garota com um futuro aparentemente promissor que aparece morta às margens de um rio. A chave para desvendar o mistério veio pelas mãos de Jennifer Lynch, filha do diretor e co-autora da série, que, trazendo à tona a identidade de Laura, revela um lado obscuro da jovem e da sinistra cidade onde viveu e morreu. Lançado originalmente pela Globo Livros em 1991, O diário secreto de Laura Palmer ultrapassou as telas e se tornou um ícone entre os adolescentes dos anos 1990, ainda sendo objeto de culto entre os jovens deste início de milênio. Até hoje, poucos autores tiveram a ousadia de Jennifer Lynch, que sem dogmatismos e meias-verdades fala sobre adolescência, sexo, drogas e morte. Laura Palmer, a bela rainha do baile de formatura, a menina com as melhores notas, gentil, encantadora, filha de pais amorosos e o retrato perfeito da juventude de ouro americana. Quem teria algum motivo para assassinar Laura a sangue frio? A resposta para essa pergunta não estava no diário róseo encontrado pela polícia no quarto da jovem, mas sim em um volume escondido, onde Laura expõe sua verdadeira face. Drogas, orgias, prostituição, abuso, medo. Um retrato de uma adolescente perdida, que, ao tentar romper com os padrões impostos pela rígida sociedade interiorana onde foi criada, trilhou um caminho sem volta de perdição e desespero. A cada entrada do diário, que se inicia em seu aniversário de doze anos e segue até o dia de sua morte, quatro anos depois, Laura revela detalhes não apenas sobre seu flerte com a depressão como também a realidade sórdida ocultada pelas brumas de Twin Peaks, cidade madeireira do interior dos Estados Unidos, onde, assim como a própria Laura, ninguém – e nada – é exatamente o que parece ser. Em 2017 vai ao ar a tão esperada terceira temporada de Twin Peaks, 25 anos após seu último episódio, e O diário secreto de Laura Palmer continua a ser um convite inebriante para velhos e novos fãs da série, que irão mais uma ser seduzidos pelo encanto e a angústia da protagonista.
Contexto Histórico
Na década de 90, a série consagrada Twin Peaks, dirigida por David Lynch, narra a história da cidade de mesmo nome, contando seus fenômenos sobrenaturais e inimagináveis à soma da tragédia do assassinato de uma doce e perfeita jovem, Laura Palmer. A série traz diversas possíveis interpretações pelo que andei lendo por esse Google a fora (risos). O Diretor, por um lado, é bem aclamado quando o assunto é o abstrato, onde "em baixo do tapete" pode haver uma ou mais resoluções racionais para as tramas. Fugindo dessa temática... Em 2016, com a retomada da terceira temporada, David Lynch convida sua filha, a cineasta Jennifer Lynch, a escrever um livro sobre Laura, dando à escritora controle total para “brincar de Laura e inventá-la”, como assim descreveu a autora. O livro O Diário Secreto de Laura Palmer tounou-se ícone entre os adolescentes da década de 90, atingindo o status de Bestseller e servindo como apêndice para a série. Segundo a autora, o tema para a escrita é “uma perspectiva chocante sobre a atribulada decadência desta jovem vítima de abusos sexuais, no período que decorre entre o seu 12º aniversário e a morte”.
Quanto à série, ainda não terminei de assistir, portanto, o que abaixo escrevo é tão somente baseado no livro.
Resenha
Era 22 de julho de 1984, data que se inicia a história narrada pela personagem, logo, de acordo com sua realidade e olhar sobre os acontecimentos. Laura Palmer tem como presente de aniversário, ao completar seus doze anos, um diário; um diário para contar suas aventuras, seus medos, seus desejos e outros. Como para a maioria das adolescentes dessa idade, para ela, ter um diário era fascinante. Fez dele um amigo e algo/alguém por quem se sentisse compreendida, sem julgamentos – ou não é verdade que nos sentimos incompreendidos nessa idade?
Laura mora com seus pais na cidade de Twin Peaks. Em seus relatos, pouco traz a respeito dos “coadjuvantes” de sua vida - lembrando que se trata de suas perspectivas e olhar sobre o seu mundo.
Aos olhos dos moradores, família, professores e outros, Laura Palmer é uma jovem admirada, bonita, praticamente perfeita. Porém, Laura traz em suas escritas uma personalidade não exposta. Temos em seus relatos o modo como a religião a repreendia, de forma induzida. Temos Laura como uma adolescente que luta entre o que não conhece (seus desejos sexuais, seus medos e traumas) e o que já lhe foi instalado como conceito a ser vivido. Confesso que, nesse contexto, não vejo nada diferente da sociedade atual, seja adulta ou mesmo da idade da personagem.
Usando o intuito da autora como base, descrevo, ao ler as palavras da personagem, uma adolescente que tenta bloquear o conhecimento dos fatos (os abusos sofridos), que lida com os conflitos internos (como ser aceita em sociedade), seus medos (como o de não ser aprovada por Deus), suas vontades e autodescobertas. Nisso, sinto-me à vontade para citar BOB, o tão especulado e assustador BOB. Laura tem medo dele, mas ao mesmo tempo sente prazer. BOB pode ser interpretado como um espírito, um demônio, uma invenção, dependendo da relação que se faz entre leitor e leitura. Mas aqui, segundo a minha perspectiva, é a realização de seus desejos sexuais, os quais Laura não sabe como vivenciar, não os compreende e os mantém reprimidos por n’s motivos. Enfatizo aqui o modo como os abusos sofridos intereferem completamente em como se lida com a vida sexual, seja para Laura ou para qualquer um de nós. Abusos, de qualquer natureza, altera nossa percepção sobre quem somos, como nos envolvemos com aquilo ou aquele e como sentimos. Com isso, Laura vive um conflito entre o que é real ou não; sobre o que presencia todas as noites e o que deseja; sobre a culpa, a bondade e a maldade. Mais ainda, sobre quem ela acredita ser e o que querem que ela seja.
Descrevo uma adolescente que, sem ajuda, escolhe seguir por caminhos sem volta, como o das drogas, o sexo descontrolado e as mentiras. Não creio que, como adolescente, ela entenda ou aceite
seus atos como “escolhas”, e não sabemos se ela possuía quaisquer distúrbios psicológicos que indiquem uma compulsão sexual ou mesmo uma compulsão pelas mentiras, afinal, ambos podem ser tidos como vícios. Com isso em vista, exponho aqui a facilidade para se chegar a “atribulada decadência” citada pela autora Jennifer Lynch.
Seguindo esse raciocínio, questiono: O quarto não poderia ser sufocante devido o terror por ela vivenciado, trazendo à tona a recordação daquilo que, constantemente, ela tenta bloquear? O sentimento de incompreensão e o medo de ser constantemente julgada, não nos parece familiar? A luta contra o que nos foi ensinado e o que realmente desejamos, também não nos é conhecido? A batalha para apagar memórias da mente, limitando assim o poder que a dor possui sobre nós, também não nos soa como algo já vivenciado?
Pois bem, minha crítica aqui poderia ser quanto à estrutura narrativa da obra, mas sou completamente leiga quanto ao assunto, assim, simplesmente me cabe olhar com olhos cuidadosos sobre a personagem descrita, afinal, não me parece sobre-humano suas atitudes. Laura traz suas marcas, seus demônios, os quais infelizmente não conseguiu vencer. E sem ajuda, acho mesmo muito difícil. Mas, mais do que a história de Laura Palmer, sob seu olhar, o livro traz à tona o olhar escondido de muitos de nós. E gosto da ideia de que, nossa antipatia, empatia, simpatia pelas personagens dos livros lidos, nada mais são que nossas exteriorizações racionais e emocionais, sejam estas já vividas ou ainda reprimidas.
Por fim, acrescento minha maneira de pensar sobre a qualidade do livro e da narrativa. Não acredito em livros ruins, desde que o leitor seja capaz de reconhecer suas emoções – raiva, ira, tristeza, compreensão e outros – projetadas como questionamento próprio de sua auto-definição ainda não assumida. Cito como encerramento as palavras de um Blogger, para reflexão pré-leitura futura:
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